Depois de conferir a série Rizzoli & Isles, compreendi o aviso de uma amiga que acompanha a série religiosamente: “Não tenha muita esperança. Dali não sai nada”. Após conferir o sexto episódio da série (I kissed a girl), que foi ar na semana passada nos EUA, não restou dúvida alguma: trata-se daquele tipo de produção que mora dentro do armário e que nunca sairá dele.
A série conta a história de duas amigas policiais da divisão de homicídios de Boston. Jane Rizzoli é uma detetive super durona, voz meio suspeita e cara de quem não tem tempo a perder com muita frescura. Maura Isles, por outro lado, é uma médica legista super feminina com tino pra mortos e pra moda, o que levou sua intérprete, a atriz Sasha Alexandre, a descrever sua personagem como uma “Carrie Bradshaw com um morto ao lado”.
Ambas até poderiam formar um casal perfeito, mas a intimidade entre as duas não vai além de um cochilinho na cama da parceria (de trabalho) e algumas trocas de confidências, muitas delas sobre o sexo masculino.
No ultimo episódio que foi ao ar nos EUA, as protagonistas investigam o homicídio de uma lésbica, que sofria de diabetes, e cujo corpo foi encontrado próximo a um bar gay. A vítima, apesar de casada com uma mulher, parecia se divertir conhecendo garotas em sites de relacionamentos “só para elas”. Para desvendar o caso misterioso, Rizzoli terá que se passar de lésbica – o que não é algo tão difícil assim – e cair na noite à caça de uma suposta assassina.
Em uma das cenas do episódio, Isles e outros dois policiais do departamento de homicídios decidem criar um perfil de Rizzoli no tal site de relacionamento gay. Uma das etapas do cadastro é escolher a categoria que melhor se encaixe ao estilo de vida de Rizzoli. Um dos policiais descreve a colega como alguém de look mais “machinho”, mas Isles se nega a clicar nessa alternativa e diz que vai marcar a opção “esportista”. Para acabar a polêmica, um outro policial sugere que se marque a mesma opção escolhida pela vítima. Isles se interessa pela dica e vai verificar qual a opção marcada pela vítima (a saber: “lésbica bem feminina”). O policial não se aguenta e solta a frase: “adoro à paisana!”. Realmente, Rizzoli pagando de lipstick lesbian só mesmo trabalhando à paisana!
Quando é informada por Isles que tem um perfil num site de relacionamento lésbico, Rizzoli não gosta da ideia, mas depois se impressiona com a quantidade de mulheres interessadas nela. As amigas leem juntas algumas mensagens deixadas no site e terminam conversando sobre que tipo de mulheres elas gostariam de ter caso fossem lésbicas. Sem titubear, Rizzoli avisa que definitivamente incorporaria o papel do homem da relação. “Só porque você é mandona?”, indaga Isles. Rizzoli acusa a amiga de também ser mandona. O debate sobre quem gosta de mandar mais termina quando Isles, brincando, diz à Rizzoli que ela pode ficar tranquila pois não faz o seu tipo. “Como assim eu não faço seu tipo? Isso é muito grosseiro!”, comenta Rizzoli. Isles explica seus motivos: “você não sabe relaxar. Você usa sapato e roupa na cama, além de ser mandona”.
O episódio segue com Rizzoli levando cantadas em sua jornada de lésbica de mentira. No final do capítulo, o máximo de intimidade gay que vislumbramos é um beijinho no pescoço que a policial leva numa de suas investigações. Nada que seja motivo para tirar as crianças da sala.
Ah, e antes que esqueça: além de passar a maior parte do episódio tentando disfarçar que gosta de mulheres (ou melhor seria dizer tentando disfarçar que gosta de homens?), Rizzoli encontra-se numa enrascada braba depois que Isles arma um encontro duplo com dois rapazes da aula de Ioga. Jorge, um latino bonitão, parece bem interessado em Rizzoli, mas a policial quer cair fora o mais rápido possível ao descobrir que o projeto de vida do cara é casar, ter filhos e ficar em casa cuidando do lar enquanto a esposa perfeita trabalha.
Mais tarde, vemos Jorge abordando Rizzoli na aula de ioga, esclarecendo à moça que apóia a “escolha” dela. “Fico feliz que vivemos num Estado onde mulheres como você possam casar”, diz Jorge. Rizzoli ri sem graça para o rapaz e vai tirar imediatamente satisfação com Isles: “você disse ao cara que eu era gay?”. Isles nega que tenha dito algo e corrige a amiga: “Ele presumiu que você fosse”.
Só ele? Rizzoli, minha filha, você não é biscoita por mera preguiça!
Rizzoli & Isles conseguiu obter um dos melhores índices de audiência no verão americano, liderando o ranking das séries mais vistas na TV a cabo de lá. Só por essas informações, arrisco dizer ser pouco provável que a produção do seriado apimente a clara tensão sexual que há entre as personagens. Como não me contento com pouco, deixarei a série bem guardadinha no armário, inspirando-me na policial da trama. Vai que um dia acontece um milagre e Rizzoli se assume de uma vez…
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