A doutora María Leal está de volta catalogando outros tantos tipos de lésbicas que existem por aí. O Volume II do curta espanhol Homotipos foi lançado ontem na internet e está mais bem produzido do que a primeira parte, como era esperado. O vídeo tem 20 minutos de duração e a narrativa se alterna entre o consultório da doutora Leal e as aventuras de Michele Leal, um detetive cuja maneira de investigar, segundo ela, é questionada por muitos.
O vídeo abre com imagens de Michele que, em 1940, está em busca de Dyke (muito bom o nome!), uma bandida perigosa, ao que tudo indica, que sabe onde está o objeto que Michele tanto quer encontrar. As duas também guardam um segredo. Para descobrir que objeto é esse e qual o segredo, só vendo o vídeo até o final.
Por favor, deem uma forcinha às meninas visitando a página oficial de Homotipos e colaborem para uma terceira parte do projeto.
Quem quiser uma ajudinha para entender algumas partes do vídeo, eis a tradução, com algumas adaptações, claro. É só continuar a leitura do post.
Ah, e antes que eu me esqueça, deixo aqui meus parabéns e agradecimentos a uma das diretoras de Homotipos, María Leal, por ter nos avisado sobre a segunda parte do vídeo.
1940
“Meu nome é Michele Leal. Minha maneira de investigar é questionada por muitos. Por isso, sei que não é muito seguro andar altas horas da noite por essas ruas. Mas, hoje, tenho um objetivo importante”.
2009
“Oi, sou a Dra. Maria Leal e de novo estou desenvolvendo uma dura e intensa pesquisa para mostrar a vocês mais outros tipos de biscoitas. Meus companheiros e eu trabalhamos dia e noite para trazer à luz esses novos homotipos que andavam escondidos, mas que finalmente caíram em nossas redes para serem desmascarados”.
Agressiva
Dra. María Leal: É um tipo que sempre existiu. Se esconde sob outros homotipos, mas realmente seu comportamento rude as entrega. O galanteio inato as caracteriza. Piercing e tatuagens são optativos, formando parte de seu peculiar aspecto de menina má. Tem origem da nova escola das viragos (as machinhos).
Sua arma principal para paquerar é o ronco da moto. Durante a realização de festas sociais entre jovens estão sempre com uma garrafa na mão. Aparecem acompanhadas de suas inseparáveis motocicletas. Se fazem notadas pelas fortes aceleradas acompanhadas de fumaça, uma clara mensagem subliminar que deve ser interpretada como: “garotas, cheguei”.
Sobrancelhas levantadas, cara de interessante, máximo controle do ambiente para que a presença do “galo” seja notada na zona. É a protetora de seu território e não tem escrúpulos. Se precisar partir para cima, o fará. As lésbicas agressivas são as mulheres com as cordas vocais que mais aguentam. Uma mulher de vocabulário amplo e de qualidade extraordinária.
[as biscoitas de linguagem peculiar danam a falar da famosa crise que não agüentam mais, depois falam de trabalho, que nunca tiveram de verdade, e sobre uma guapa gostosa. um luxo de vocabulário. Reparem no ar gracioso e na mão da garota da esquerda, prestes a apertar um bagulho]
Hétero aberta
“Eu sou hétero. Não sou lésbica de jeito nenhum! Mas não penso em morrer sem antes comer uma garota”
Dra. Maria Leal: Este é o pensamento básico das héteros abertas, esse coletivo perfeito de modelo de vida heterossexual, um exemplo a seguir sob os olhos dos papais. Têm os hormônios desatados e escondem um grande segredo. Apesar de viverem alardeando sobre os carinhas que as perseguem, de desfrutar de cada bebida que os “ingênuos” se atrevem a lhes pagar e de luzir seus cabelos ao vento, nos conversíveis do ficante da semana, essas garotas não pensam em morrer sem transar com uma mulher.
[a hétero aberta conversa com um amiga sobre uma saidinha que deu com o amigo Alberto e um outro colega e – surpresa!! – levaram junto a priminha gostosa do Alberto. No meio da balada, enquanto dançavam e bebiam, as duas foram ao banheiro e a prima do Alberto lhe confessou que era lésbica. A amiga pergunta qual o problema disso e, desconfiada, questiona a hétero aberta se ela está escondendo algo. A hétero aberta nega. Vemos então a cena de duas garotas se beijando na frente do pôster da banda Juliete & the Licks (muito bom!!). A hétero aberta fica irritadíssima e diz que não dá para contar nada à amiga porque ela não entende nada de nada]
Dra. María Leal: Apesar do sonho de toda lésbica é conseguir beneficiar-se, uma única vez, desse homotipo em crescimento exponencial, sentimos muito em adverti-las de que as héteros abertas vivem num mundo paralelo no qual transar com uma garota significa “dar uns pegas em sua melhor amiga”.
Biscoitas do universo: não se deixem enganar. Controlem seus hormônios e consigam passar pela história como aquela que, por fim, conseguiu dizer “não” a uma hétero aberta!
Biscoita do interior
Dra. María Leal: A biscoita do interior ou a “country lez” é uma espécie quase extinta. No entanto, ainda podem ser achadas em alguns lugares mais recônditos. Se fizermos uma lista de garotas com as quais já ficaram nossas amigas incondicionais, seguramente se incluirá uma biscoita do interior.
Residem em cidades pequenas e, ao sair de suas fronteiras, superam suas expectativas. Vivem em um modo de vida campestre e estão quase trancadas no armário. Poucos conhecem sua faceta lésbica, já que se camuflam usando pérolas, rabos de cavalo super estirados, mocassim, camisas estampadas “originais”.
[No interior, uma mãe conversa com a filha sobre suas andanças pela cidade grande. Com certeza, diz a mulher, ali acontecem mais coisas do que no interior. A biscoita jeca diz que não precisa de muita coisa para ser mais animado do que a vida no interior, mas, sim, em Sevilha tem muito filhinho de papai, uma discoteca só com gente bonita. A mulher pergunta se os rapazes não dão em cima, afinal, não é possível que não haja unzinho sequer. A biscoita do interior respondem que sim, enquanto a câmera mostra a moça no balcão do bar, pedindo uma bebida enquanto se aproxima uma garota. As duas flertam.
Dra. María Leal: As biscoitas rurais que amam trazer suas namoradas à cidade pequena, para conhecer seu estilo de vida. O problema é que a grande maioria se assusta. Por isso que as biscoitas do interior estão começando a mudar para conseguir um amor de verdade.
No momento, encontramos essas biscoitas na cidade grande, acopladas em grupos de teóricas “femme”, machinhos, etc. Que seja tudo por amor.
Divina
Dra. María Leal: Acho que só de me ver, vocês já imaginam sobre quem vou falar. O glamour, a máxima perfeição de feminilidade, as poses, os desfiles, o cabelo super penteado, as unhas super cuidadas. Sessões de ginástica para estarem super em cima. Tudo isso faz parte do mundo das nossas adoráveis “divinas”. E o que dizer delas? Seu estilo, sua elegância, suas fotos posadas, suas boquinhas entreabertas em cada gesto. São super-mega-máximo. São as passarelas fiéis das biscoitas. Ou é o que creem porque, não se enganem, se uma biscoita não vê nada de pluminha, não é uma biscoita atrativa para as demais.
[A divina conversa com seu amigo gay, super pintoso. Ele conta da saída dele, dizendo que tava tocando algo na festa fora de moda e ele pediu que tocassem Lady Gaga porque “é a coisa do momento”]
Dra. Maria Leal: Uma divina nunca sai sem o seu adereço ou, o que dá no mesmo, seu amigo metrossexual gay. Ele tem o privilégio de manusear a divina em cada lugar que se dá na vista, na bebedeiras, na discoteca. E nós nos perguntamos: isso é algum tipo de flerte e nunca havíamos nos demos conta?
Amigas divinas, outras biscoitas não vão se excitar vendo um cara babando pelo seu corpo. Não se enganem. Se quiser paquerar com as demais, deveriam ser um pouco mais humildes e deixar seu amigo de lado. Porque, sério, garotas, a verdade é que vocês não gostam da fruta como acreditam.
Emergente
Dra. María Leal: Como homenagem às ultimas em aparecer, as deixei em último lugar. As emergentes são todas aquelas garotas – sim, garotas, agora vocês estão se sentindo identificadas – que andam me procurando no Tuenti de maneira descomunal. As emergentes se caracterizam, em primeiro lugar, por aparecerem de um dia para outro e com as ideias super claras. Gostam de mulheres. A dúvida é de quantas ela gosta.
Uma emergente lhe causa a primeira impressão do tipo “minha nossa!”. Como não têm vergonha alguma e sabem mais do que você e todo o ambiente junto, demoram menos de 3 segundos para ler sua mente e se aproximar. Vocês sorriem, vocês conversam, vocês se olham, vocês se derretem.
[A biscoita-vítima pergunta à biscoita emergente quantos anos tem]
Dra. María Leal: “14. Ela tem 14 anos. Já avisei”
Quando a viu, você pensou que a teria todinha, mas, não, elas se disfarçam! Se pintam, se arrumam, ficam lindas e você cai na rede delas. É inevitável se render aos encantos de pelo menos uma emergente ao longe de sua vida. Se quiser, melhor dizendo, se não pude aceitar, vá em frente, mas aviso que ela vai fazer o mesmo o que fez com as outras 47 que passaram na vida dela, antes de você.
Não importa que homotipo seja. O que importa é que sempre hemos de existir.
Voltamos a 1940 e Michele Leal entra em um bar e senta-se ao lado de uma chica de Cabaret.
Michele: Esse lugar é acolhedor. Adoro está em temperatura ambiente. Me daria um cigarro?
Chica de Cabaret: no.
Michele: Me diria onde posso encontrar a Dyke?
Chica de Cabaret: Me? Never!
Michele: É necessário.
[Michele mete uma dinheirinho entre os peitos da mulher e ela diz algo no seu ouvido. Michele levanta.]
Michele encontra Dyke e outras biscoitas jogando cartas no bar. Ela diz que veio buscar algo que Dyke sabe bem o que é.
Dyke: Não tenho nada para você.
[Michele põe um maço de dinheiro na mesa]
Dyke: Procura isso?
[Dyke mostra um rolo de filme com o nome “Homotipos” e pega o dinheiro em cima da mesa]
Dyke: isso não é o que acertamos. Devolve o filme!
Michele: Tem medo, Dyke? Te assusta que alguém saiba algo?
[Dyke grita “parada” e diz que se Michele der um passo a mais, vai prejudicar todas]
Michele: você é uma covarde, Dyke. Conheço gente que daria tudo para fazer algo grande assim. Por isso que vim aqui, para levar o que me pertence.
[Michele diz “adeus, Dyke” e, ao se virar, Dyke responde “adeus” e atira em Michele]
Michele: Você sempre consegue, à sua maneira, o que quer. Papai estaria orgulhoso de você.
Dyke: Você está enganada. Ele não me respeitava. Você era a favorita.
[Michele está deitada no chão, morta. Dyke pega o rolo de filme ao lado de Michele e sai]
Voz em off de Michele: O destino não quer que seja revelado o que foi encontrado (o filme). Mas algum dia, em algum lugar, alguém acabará meu trabalho
Fim.
Tudo bem,
cheio de clichê machista. Até quando vcs vão rir com filme que divulga que mulher gosta de bater em mulher?
cláudia, gosto é gosto. normal que vc faça essa leitura do filme. no youtube, onde a primeira parte do vídeo foi postada, as pessoas puderam, inclusive, discutir com uma das diretoras do filme (lésbica, por sinal) sobre a velha questão de os clichês abordados serem ou não machista.
pessoalmente, conheço lésbicas que se encaixam em boa parte desses perfis-clichês. e, pasme, elas são felizes assim.
mas, certeza que viu o filme certo?
porque não costumamos divulgar cenas de violência gratuita por aqui. acho que o vídeo acima pode se tratar de tudo – até de clichês machistas- mas incentivar ou divulgar mulher que gosta de bater em mulher, bom, acho que essa sua leitura vai além de qualquer olhar semiótico…
gente, tou por fora… vcs taum falando de que ein?
é impressão minha ou a garota do cabaret é a mesma que fez a “versão lésbica da Priscila Fantin” no Homotipos?
Espero que o 3º seja tão bom quanto o 2º!
De nuevo, muchas gracias.
Ahora mismo casi no tengo internet, pero en Dailymotion pueden añadirse subtítulos. Intentaré añadir los que tú has hecho.
Gracias!
de nada, Maria.
me gustaría poder traducirlo todo, pero aun quedan algunos dialogos para ser traducidos, como el de la agresiva con su amiga. hablan muy rápido y utilizan expresiones que no conozco.
desculpa, mas eu detesto esse negócio de gangster
E outra coisa, Dyke é pejorativo. E está anos luz de ser “biscoito”.
Gostei!;D
Como vc bem previu, o segundo está bem melhor que o primeiro. Sobre rótulos, ao invés de serem tão mal vistos, gostaria de salientar que são exemplos de pessoas que existem aos montes por aí. Há quem se encaixe nesses tipos, como tb quem seja completamente diferente.
Eu mesma não me encaixo em nenhuma, mas conheço meninas que se identificam com os tipos mostrados. Infelizmente não resisto a uma hétero aberta e fico boquiaberta com a quantidade de emergentes. Pra onde olho tem uma!rs
Besos y muchas gracias!
cláudia, com todo respeito: essa discussão não tem fim. é questão de leitura. a proposta é “encarar a vida com humor” e não servir de lição de moral. quem vê o vídeo de outra forma, vai descambar para o discurso de que ele é machista e preconceituoso. e, por tabela, vai cair no discurso radical.
qualquer lésbica sabe que o termo dyke é forte.
não vejo o vídeo com a proposta de xingar ninguém. ele joga com os clichês e com as palavras. tb usa muito a palavra “bollera” em español, que pode ser pejorativo.
se alguém que eu não conheço, com quem não tenho a menor intimidade, me chamar de sapatão, biscoita, bolacha, ou, dependendo até da entonação, se até me chamar de “lésbica” , com certeza, vou encarar como xingamento. então, a questão não é a palavra em si e, sim, o contexto, quem fala e como fala.
se alguém não gosta desse tipo de humor, com certeza, não vai gostar nada do video. respeito sua opinião, totalmente distinta da minha, por sinal, e, por isso mesmo, é que não chegaremos a um consenso por aqui. são pontos de vista distintos.
abraços.
Lorena,
obrigada pela atenção.
Eu realmente admiro muito essa abertura de vcs para as opiniões divergentes e pela ideia de divulgar produção para a “galera” conhecer. Se vc me conhecesse perceberia que sou bem humorada, sim. Mas não vem ao caso.
Agora, eu acho que a gente tem que apontar onde a cultura da reprodução dos estereótipos nos pega pelas mãos e pelas pernas. A gente pode ver as cenas e rir, mas tb pode ver as cenas e procurar mudar. Afinal, foi porque nós procuramos mudar – eu digo nós de metida, porque nem me manifestei tanto assim, eu ficava mesmo era no armário – que o seu bem vindo blog existe.
beijos atenciosos,
Cláudia